11 de março de 2012

Um estilo mais lento e mais suave



A tentação no deserto revela uma profunda diferença entre o poder de Deus e o poder de Satanás. Satanás tem o poder de compelir, de deslumbrar, de forçar a obediência, de destruir. A humanidade aprendeu muito desse poder, e os governos recorrem muito a esse estoque. Os seres humanos podem forçar outros seres humanos a fazer praticamente qualquer coisa que eles queiram. O poder de Satanás é externo e coercivo.

O poder de Deus, pelo contrário, é interno e não coercivo. Esse poder às vezes pode parecer fraqueza. Em sua obrigação de transformar gentilmente de dentro pra fora e em sua inflexível dependência da escolha humana, o poder de Deus pode parecer uma espécie de abdicação. Como todos os pais e todos os amantes sabem, o amor pode tornar-se impotente se o ser amado decidir rejeitá-lo.
“Deus não é nazista”, disse Thomas Merton. De fato não é. O Mestre do Universo se tornaria sua vítima, impotente diante de um pelotão de soldados num jardim. Deus se tornou fraco por um único motivo: permitir que os seres humanos escolhessem livremente o que fazer com ele.

Soren Kierkegaard escreveu sobre o leve toque de Deus: “A onipotência que pode fazer sua mão pesar muito sobre o mundo também pode tornar seu toque tão suave que a criatura recebe a independência”. Concordo que às vezes gostaria que Deus tivesse uma mão mais pesada. Minha fé sofre da liberdade excessiva, de excessivas tentações a descrer. Quero um Deus que me domine totalmente, que supere minhas dúvidas com a certeza, que me dê provas definitivas de sua existência e preocupação.

Quero que Deus assuma um papel mais ativo nos afazeres humanos e em minha história pessoal. Por que Deus deve “ficar de braços cruzados”? Quero respostas rápidas e espetaculares para minhas orações: cura para os doentes, proteção e segurança para meus entes queridos. Quero um Deus sem ambigüidades, um Deus para o qual eu possa apontar em benefício de meus amigos céticos.

Quando alimento esses pensamentos, reconheço em mim mesmo um eco leve e vazio do desafio que Satanás fez a Jesus dois mil anos atrás. Deus resiste a essas tentações agora como Jesus resistiu a elas na terra, preferindo um estilo mais lento, mais suave.

O Jesus que eu nunca conheci - Philip Yancey

Nenhum comentário: