16 de maio de 2014

CINEMA EM CASA - Os 500 piores-melhores dias da sua vida

Escrito por: Peterson Leandro.

LOVE, LOVE, LOVE!
A palavra de ordem hoje é “AMOR”.
Na verdade, não.

 “Sleeper hit” é um termo usado na indústria para nomear aquelas peças de entretenimento que alcançam grande sucesso algum tempo depois do seu lançamento. Forrest Gump, Distrito 9, A Pequena Miss Sunshine, Atividade Paranormal, Adele e o álbum “Thriller” de Michael Jackson são bons exemplos.
Filmado de forma independente, com um diretor desconhecido, elenco pequeno e orçamento menor ainda, 500 Days of Summer tinha tudo para ser apenas mais um longa indie elogiado pela crítica que cairia no esquecimento com o tempo, se não fosse o dedo da Fox. Após ser aplaudido de pé no Sundance Film Festival, o filme foi abraçado pelo estúdio, que o distribuiu em larga escala, colocando-o no circuito comercial e na boca do povo, se tornando, em pouquíssimo tempo, um dos maiores sleepers hits que se tem notícia. US$ 60 milhões de bilheteria, duas indicações no Globo de Ouro (incluindo melhor filme) e um Spriti Awards de melhor roteiro não é pra qualquer um, especialmente entre os filmes independentes.


Mas qual a causa desse sucesso?

Pra começar “essa é a história do garoto que conhece a garota. Mas você deve saber, que não é uma história de amor”. A peculiaridade da plot, em contar um romance que não é uma história de amor já explica muita coisa. Mais uma comédia romântica clichê não caberia em um filme independente, isso os estúdios já fazem aos montes, mas o roteiro quer mostrar as várias faces que um sentimento pode ter e como um relacionamento é, na verdade, um caleidoscópio de situações que aconteceram antes, durante e depois dele, não uma página unilateral como em geral se vê nesse tipo de filmes. O texto é espertíssimo, cheio de referências, e a construção dos personagens principais é profunda, deliciosamente interpretados por Joseph Gordon-Levitt e Zooey Deschanel, ajudando no desenvolver da ideia. Podemos ver as várias camadas de cada um e, ao fim, entendemos que Summer não é apenas uma “bitch”, ou uma simples vilã da história, que feriu os sentimentos de Tom porque é psicopata.


Sem deixar de mencionar, é claro, o tipo de narrativa escolhida pelos roteiristas, não-linear, porém extremamente bem montada. Passamos do dia 30 ao dia 345 em uma fração de segundo e as cenas são tão perfeitamente ligadas que não há um momento se quer de confusão. Muitos recursos são usados para passar para o espectador não apenas os fatos, mas os sentimentos envolvidos, deixando para o público o julgamento. Na verdade, não vejo outro meio dessa história ser contada.


É bem verdade que Zooey não é uma grandiosa atriz, nem tão pouco consegue se diversificar, mas esse aspecto dela é perfeito para a personagem, sem tirar nem colocar absolutamente nada, sem falar no carisma gigantesco que ela carrega. Enquanto isso, Joseph começou aqui a mostrar porque tem se tornado o queridinho da América. Após 500 Days of Summer, sua carreira deslanchou de vez, participando de grandes blockbusters como G. I. Joe, A Origem, 50/50, O Cavaleiro das Trevas Ressurge, Looper, Lincoln e, em breve, Sin City 2. Os dois tem química e por isso são responsáveis diretos pelo nosso apego instantâneo à história. Os coadjuvantes desempenham apenas o papel que precisam, sendo um belo background para os protagonistas, mas sem grandiosos destaques, apesar de contar com ótimos atores, como Chloë Grace Moretz e Clark Gregg.


Mas nada disso seria efetivo se não fosse a competente direção de Marc Webb. Estreante, no cinema, vindo do mundo dos videoclipes (dirigiu sucessos como Call Me When You're Sober, do Evanescence e London Bridge de Fergie), soube alinhar perfeitamente todos esses aspectos diferenciados do roteiro que mencionei antes e orquestrou o elenco de forma que tudo no fim fizesse sentido, mantendo um ar fresco de produção independente, desde as locações até a trilha sonora. Porque, convenhamos, com uma mão frouxa o filme poderia poderia ter virado uma bagunça. Vale ressaltar que logo após o sucesso, Marc foi convidado pra dirigir o reboot do Homem-Aranha nos cinemas, algo completamente diferente, e o fez tão bem que já tem contrato para dirigir toda trilogia.


500 Days of Summer foi um daqueles acasos da indústria que acontecem de vez em quando, uma mistura perfeita de muita competência e oportunidade. O filme certo, no lugar certo, nas mãos da pessoa certa. Aconteceu com ele exatamente o que Summer diz para Tom sobre o relacionamento deles e que constantemente acontece conosco quando as coisas dão ou não dão certo.

“O que aconteceu conosco? Por que não deu certo?”
“O que sempre acontece. A vida.”




FICHA TÉCNICA
500 Days of Summer (500 Dias com Ela)
Gênero: Comédia
Direção: Mark Waters
Roteiro: Scott Neustadter e Michael H. Weber
Produção: Lorne Michaels, Tony Shimkin e Louise Rosner
Elenco: Leia o post
Classificação Etária: Livre

2 comentários:

Unknown disse...

Não tenho o que acrescentar, tirar, questionar ou pontuar sobre o filme.
Sobre o texto: foda! (Perdão pelo palavrão)
Tá cada vez melhor.

Ronni Anderson disse...

Peterson,
Por que vc fez isso comigo?!
Amei o filme, mas sofri um bocado...
Dias melhores de Outono para todos nós!