6 de setembro de 2014

Marina - Parte 1

Postado por: Patrícia Lira



O despertador tocou às seis e meia da manhã e tirou Marina de seu sono profundo, a realidade do último dia no emprego precisava ser encarada, na verdade até deu a ela ânimo pra sair da cama. Arrastou-se até o banheiro e se olhou no espelho, um leve sorriso estava no reflexo, em seu pensamento, o fato de encarar o chefe pela última vez, Otávio, o abusado. Escovou os dentes, prendeu o cabelo em um coque, tirou a roupa e tomou um banho sem pressa. Vestiu sua roupa preferida, um jeans escuro, camisa branca, sapatos vermelhos de salto alto e um casaco preto na altura do joelho. Resolveu tomar café na rua, Marina amava as ruas de Nova York, só não sabia se amava mais as ruas ou sua própria casa, que aliás, também iria mudar em breve. Parou na Starbucks, pediu seu café e saiu com pressa.
Chegou na agência de publicidade que trabalhava pontualmente, passou por Otávio mais sorridente do que nunca e disse:

- Bom dia.
- Bom dia, Marina. Já resolveu tudo que faltava?
- No fim do dia tudo estará ok. Não se preocupe.

Não bastava ele ter cantado Marina durante meses, agora estava todo nervosinho porque ela estava indo embora. Marina sentou em sua mesa e começou a resolver as últimas pendências que faltavam. As horas passavam lentamente. Às dez horas, Júlia, sua melhor amiga, mandou uma mensagem: “Hoje vamos comemorar, tenho novidades”. Marina respondeu: “Curiosa! Te encontro no Bubby’s”. Depois disso resolveu tomar outro café pra ver se as horas passavam mais rápido com uma distração. Foi até a copa levando sua caneca e encheu sem dó. Voltou pra mesa e fez algumas ligações.
Depois de trinta horas chegou a hora do almoço. Marina achou que seria um bom dia pra almoçar sozinha, não ter que lidar com conversas sobre a saída do emprego e o que seria dali pra frente. Saiu do prédio e viu que o tempo havia esfriado. Colocou o casaco, parou numa banca de revistas, achou tudo desinteressante. O almoço foi cachorro quente de rua mesmo, sentada em um banco do Bryant Park.
Voltou para a agência e começou a tarde finalizando um portfólio de seu último cliente. Depois disso teve uma reunião com Sara, sua substituta, passou tudo que faltava e estava livre. Se despediu de alguns colegas, mas sabia que seria a última vez que os veria, não tinha feito grandes amigos ali. Pegou sua bolsa e saiu com a sensação de dever cumprido.
Chegou ao Buddy’s, escolheu uma mesa e ficou esperando Júlia. Pediu um vinho, achou que a noite prometia boas coisas. Júlia chegou sorrindo, abraçou Maria forte e disparou:

- Estou grávida.
- Ah, meu Deus. Mentira.
- Claro que não.
- Júlia, que notícia maravilhosa. Eu, oficialmente, fiquei pra titia. – As duas dispararam a rir.
- Quando você soube? – Perguntou Marina.
- Hoje. Eu estava na dúvida há alguns dias e resolvi fazer um teste de farmácia, na verdade fiz doze.
- Doze? Por que doze, maluca?
- Achei que doze me deu a certeza.
- Eu tô muito feliz por você. O André deve ter pirado, como ele reagiu?
- Ele ficou muito chocado, como se a gente não estivesse tentando, sabe?
- Sei. Quando a gente vê que é de verdade é diferente. Dá os parabéns a ele por mim.
- Claro. Mas e você, me conta quais são as novidades.
- Bom, eu? Nada demais, tudo na mesma. – Se tinha uma coisa que marina não gostava era responder esse tipo de pergunta. Quem tem uma novidade pra contar toda vez que encontra alguém? Tudo bem que era Júlia, mas que era uma pergunta chata, era.

O jantar foi ótimo, Marina teve que tomar o vinho sozinha. Comeram, falaram, riram, planejaram todo o futuro da criança que ainda não tinha a idade calculada. Se despediram com a promessa de um almoço no sábado seguinte.

Marina chegou ao prédio que morava, subiu no elevador e sentiu um frio na barriga, pegou as chaves, abriu a porta, fechou, tirou o casaco, os sapatos, foi até a janela e pensou “Minha melhor amiga está grávida, estou feliz por ela, mas não deixo de ter uma pontinha de inveja da vida perfeita que ela leva com André em sua casa azul. Já eu, estou sozinha há um ano, como cachorro quente sentada comigo mesma e saí do meu emprego sem ter outro em vista. E agora?”. Uma sensação de pânico a invadiu.

Um comentário:

Rebs disse...

Curti! :)
Esperando os próximos capítulos.